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Praia Grande ainda vive consequências da tragédia que matou 8 em queda de balão

Acidente provocou mudanças nas regras de segurança e afetou fortemente o turismo local, base da economia no município do Extremo Sul catarinense

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Na manhã do dia 21 de junho, um sábado, a cidade de Praia Grande, no Extremo Sul de Santa Catarina, virou palco de uma tragédia histórica no Brasil. A queda de um balão, que matou oito pessoas, completa exatamente um mês nesta segunda-feira.

O acidente marcou a cidade, trouxe debates sobre a regulamentação da atividade e, mais do que isso, expôs a angústia dos familiares. Ao todo, 21 pessoas, incluindo o piloto e sócio da empresa responsável pela aeronave, a Sobrevoar, Elves de Bem Crescêncio, estavam a bordo; 13 se salvaram.

O relato do piloto é de que o fogo teria iniciado com uma chama no interior do cesto do balão, que havia decolado há poucos minutos. Crescêncio ressaltou que, ao perceber o foco, iniciou um pouso de emergência e, quando já estava próximo do solo, ordenou que os passageiros pulassem.

Oito pessoas não conseguiram sair do balão; dessas, quatro morreram carbonizadas e outras quatro não resistiram após tentarem pular do cesto. As vítimas tinham entre 33 e 70 anos. Os mortos na queda de balão em Praia Grande foram identificados como:

Foto: Reprodução NDMais

Leandro Luzzi, 33 anos;
Andrei Gabriel de Melo, 34 anos;
Leane Elizabeth Herrmann, 70 anos;
Janaina Moreira Soares da Rocha, 46 anos;
Everaldo da Rocha, 53 anos;
Juliane Jacinta Sawicki, 36 anos;
Leise Herrmann Parizotto, 37 anos;
Fabio Luiz Izycki, 42 anos.

Em entrevista exclusiva ao Domingo Espetacular, da TV RECORD, o piloto relatou que a decolagem foi tranquila. “Perfeita, sem erro nenhum”. Segundo ele, o dia do voo não era de cancelamento e seguiu os procedimentos normais até que, quatro minutos após a subida, o incêndio começou.

“Eu senti o cheiro de queimado e, quando olhei para baixo, havia um foco de incêndio na casa [do maçarico auxiliar]”, explicou. Crescêncio explica que o maçarico auxiliar é um equipamento que deve ser utilizado se a chama principal falhar.

Ainda durante a entrevista ao jornalista, Roberto Cabrini, o piloto afirmou que, naquele momento, jogou o maçarico para fora do cesto e tentou parar a chama com o extintor, que teria, supostamente, falhado. Não havia um reserva na aeronave.

Outro assunto que veio à tona, em depoimento de alguns sobreviventes, foi de que Crescêncio teria sido um dos primeiros a sair do balão. “Eu não saltei, fui ejetado”, relatou, ao ser questionado sobre o motivo de ter deixado a aeronave antes dos demais passageiros.

O cesto tem uma altura de 1,20 metros. “O balão é projetado justamente para que as pessoas não saltem”, explicou Elves. Ele ainda acrescentou que não existe uma técnica definida para esse tipo de salto, já que essa seria uma situação rara.

Reconstituição sobre a queda de balão em Praia Grande

Foto: Thiago Hockmüller/ND

No dia 26 de junho, a reportagem do ND Mais acompanhou os trabalhos da reconstituição da queda de balão em Praia Grande. As ações contaram com peritos da Polícia Científica, com equipe de localística e de engenharia forense, além da Polícia Civil, que coordena a investigação da tragédia.

Durante os trabalhos, foram encontrados novos vestígios e periciados equipamentos utilizados no balão. Conforme apurado, não foi realizada a reprodução simulada dos fatos, já que esse método é usado quando há confronto de versões das testemunhas, o que não aconteceu.

“A frente do setor de localística é para verificar as condições de materialidade e dinâmica e a eventual responsabilidade criminal dos autores envolvidos. A frente do setor de engenharia forense vai tentar identificar as causas que deram início a essa ignição do incêndio, que deram causa a esse trágico acidente ocorrido na cidade de Praia Grande”, explica o perito-superintendente da Polícia Científica, Jones Cambruzzi Pereira.

O delegado responsável pelo inquérito, Rafael de Chiara, afirma que o trabalho realizado na reconstituição pode ser conclusivo para o fechamento do caso. Neste momento, os órgãos aguardam a perícia, que deve, segundo o policial, “esclarecer pontos importantes da investigação”.

Outros detalhes sobre a queda de balão em Praia Grande não foram informados.

Balões de volta ao céu com regras reforçadas

Os voos de balão foram retomados no dia 2 de julho, 11 dias após a tragédia, com a decolagem de quatro balões na primeira hora da manhã. Mais que o retorno da atividade, crucial para a economia de Praia Grande, as decolagens simbolizam um marco também nos protocolos de segurança implementados pela Avibaq (Associação de Voos de Instrução de Balão de Ar Quente de Praia Grande), pelo Procon de Santa Catarina e por outros órgãos oficiais.

Entre as regras, está a obrigatoriedade de dois extintores de incêndio por balão, uso de rádios comunicadores, mantas antichamas — tudo parte da atualização de protocolos operacionais que incluem cerca de 25 itens. As ações também preveem a criação de uma comissão meteorológica.

As empresas seguem obrigadas a respeitar o Código de Defesa do Consumidor, a Lei Geral do Turismo e os regulamentos da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Confira a lista de documentos exigidos para que as empresas operem voos de balão:

Licença de Piloto de Balão Livre (PBL);
Registro da aeronave e certificado de aeronavegabilidade;
Matrícula no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB);
Operação em espaços aéreos autorizados pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).

Essas autorizações são emitidas pela Anac, e a operação sem esses documentos é considerada ilegal. A prática deve seguir as normas RBAC nº 61 e RBAC nº 103, específicas para esse tipo de atividade aérea.

A empresa ainda precisa ter CNPJ e registro na Junta Comercial, alvará de funcionamento, licença ambiental e sanitária (caso necessário) e vistoria do Corpo de Bombeiros. Segundo o decreto que regulamenta a Lei Geral do Turismo, empresas de aventura são obrigadas a adotar um Sistema de Gestão de Segurança, que inclui os seguintes termos:

Medidas preventivas e procedimentos de segurança

Planos de gerenciamento de risco;
Seguro aventura para os participantes;
Treinamento contínuo da equipe;
Termo de conhecimento de risco assinado pelo consumidor.

Para verificar se a empresa está formalizada, o consumidor pode consultar o Cadastur, sistema do governo federal que registra prestadores de serviços turísticos. Em Santa Catarina, a coordenação é feita pela Santur. O cadastro no Cadastur é obrigatório para agências de turismo, guias, meios de hospedagem, organizadoras de eventos, parques temáticos e transportadoras turísticas.

Crise após o acidente afetou toda a cadeia turística

Pouco depois da queda de balão em Praia Grande, a taxa de cancelamento de voos chegou a 60%, provocando também baixas em reservas de hotéis, no movimento de restaurantes e prejuízos a toda uma cadeia produtiva integrada por mercados, fornecedores, logística e comércio em geral.

Mesmo assim, a atividade segue como fundamental para o movimento econômico da cidade. Dados da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo indicam que até 80% da economia local é movimentada pelo setor, que é tratado como um marco no crescimento socioeconômico desde 2017, quando as primeiras agências promotoras de voos abriram as portas em Praia Grande.

“Com a chegada dos voos de balão, nós tivemos um salto extraordinário, porque a gente conseguiu unir o potencial natural, onde, através dos voos, é possível fazer a contemplação de toda a área natural no contorno da cidade. Posso dizer que houve dois momentos: um momento antes do balonismo em Praia Grande e outro depois dele”, disse o secretário de Cultura e Turismo, Henrique Maciel.

De 20 para 200: salto nos empreendimentos turísticos

Reconhecida como a Capital dos Canyons, Praia Grande tem mais de 200 empreendimentos ligados ao programa Turismo Legal. Estima-se que, antes do balonismo, esse número não passava de 20. A indústria do balonismo é movida por mais de 30 empresas que operam com 70 balões. De 2017 para cá, foram realizados mais de 40 mil voos, consolidando o setor como a “maior indústria” da cidade, que ganhou um novo título: de Capadócia Brasileira.

O município de Praia Grande, localizado 270 quilômetros ao sul de Florianópolis, fica na divisa com o estado do Rio Grande do Sul. Reconhecida como a Capital dos Canyons, a cidade tem em seu território 11 canyons, considerados entre os principais do Parque Nacional de Aparados da Serra.

“Praia Grande já é consolidada por ter realmente uma vista privilegiada e única no Brasil, em função de sermos um território de reconhecimento internacional, como Geoparque Mundial da Unesco. Isso faz com que todo esse complexo natural atraia turistas para cá. E é por isso que deu muito certo o balonismo em Praia Grande, é por isso que Praia Grande se tornou essa joia preciosa para o balonismo nacional”, argumenta o secretário.

De acordo com dados da Prefeitura de Praia Grande, vivem mais de 8 mil pessoas no município, distribuídas entre a zona urbana (59,13%) e rural (40,87%). Além do balonismo, a cidade oferece serviços como SPAs, chalés e campings, além de atividades voltadas para o ecoturismo e turismo de aventura.

Com informações NDMais

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