Os cantos litúrgicos, a força da música nas celebrações e até o encanto pelo órgão histórico da Matriz Nossa Senhora da Conceição, de Urussanga, estão no centro da história de fé de Thiago, 20 anos, filho de Jackeline Dalponte e Joerge Serafim. Foi pelo som, e pelas pessoas que encontrou nesse caminho, que ele voltou a se aproximar da Igreja, passou a se aprofundar na liturgia e, depois de anos de discernimento, decidiu dar o “sim” para entrar no Seminário Diocesano Nossa Senhora de Caravaggio, em Nova Veneza.
“A música foi o que me trouxe de volta”. Ele conta que, embora tenha crescido na Igreja, foi coroinha desde pequeno e sempre recebeu incentivo da família, houve um período em que se afastou das atividades. “Não deixei de acreditar, nem mudei de religião. Só deixei de frequentar com tanta assiduidade, ainda mais naquele período da pandemia”, explica.
Da amizade ao violão, e do violão ao altar


A reaproximação começou de maneira simples: amigos do colégio tocavam violão e isso despertou sua curiosidade. “Comecei a gostar, e pensei: por que não aprender também?”, lembra. As aulas vieram com o músico Duda Trombim, de Urussanga, e logo o violão o levou de volta à Igreja. “A Margarete me chamou para tocar numa missa. Eu não sabia cantar direito, mas sempre gostei, e posso dizer que ela foi minha mestra nisso”.
O passo seguinte veio com um convite da amiga Maria Sara, que o chamou para participar de um grupo de jovens. ““Ali eu voltei de vez. Engajei na música, no grupo de oração, na pastoral dos acólitos, em tudo”.
Hoje, além do violão, ele já foi guitarrista, “estou aposentado da guitarra”, brinca, e está aprendendo teclado. O órgão da Matriz, que já aparece em um vídeo publicado por ele, é motivo de emoção. “É uma alegria imensa tocar aquele órgão, que é parte da história da cidade e da Igreja. O órgão é o instrumento oficial da liturgia católica. Ele remete aos tempos antigos, é patrimônio”.
O impacto da música na Missa
Thiago se aprofundou também na liturgia e percebeu, segundo ele, o papel decisivo do músico na celebração. “Um músico transforma a Missa. Pode elevar o fiel a Deus ou atrapalhar, se escolher cantos indevidos”.
O interesse o levou até aos cantos gregorianos, que ele descreve como um tesouro da Igreja: “É uma maravilha histórica, que tem se perdido, mas que podemos resgatar com instrução. Não só os gregorianos, mas cantos litúrgicos próprios, que transmitem piedade e dignidade”.
O chamado que insistia

A partir dessa vivência mais intensa, iniciou-se o discernimento vocacional. “Temos dois chamados: o chamado à santidade, que é geral, e a vocação particular, que é o caminho pelo qual cada um será mais perfeitamente santo”, explica. Ele participou de encontros vocacionais e de um estágio em Caravaggio, recebendo em 2022 a primeira carta de convite para entrar no seminário. “Não aceitei. Tinha medo, dúvida, queria terminar o ensino médio em Urussanga”.
Mesmo assim, a inquietação não passou. “Era uma dúvida que não me deixava: ser ou não ser padre”. Em 2024, voltou a participar dos encontros, recebeu novamente a carta, e percebeu que a resposta havia amadurecido. “Virou uma chave. Eu vi que, se não fosse atrás disso, não seria plenamente feliz”.
“Vocação acertada, vida feliz”

Thiago acredita que a vocação não é uma escolha humana, mas um dom. “A gente não escolhe a vocação. Deus concede. Cabe a nós segui-la ou não”. E cita uma frase que considera definitiva: “Vocação acertada, vida feliz”
“Quando encontramos nossa vocação e decidimos segui-la, encontramos a nós mesmos. É um encontro com Deus e consigo”, afirma. “É aquela coisa: escolhido não tem escolha. Não porque Deus obriga, mas porque sabe onde está a nossa felicidade plena”.
O desejo de servir
Atualmente, ele trabalha na empresa ESAF, mas diz que nenhum plano pessoal pesa mais do que seguir o que acredita ser o pedido de Deus. “Posso chegar ao seminário e, depois, perceber que não é aquilo. E tudo bem. O importante é fazer agora o que Deus pede.”
Ele lembra de uma frase de um ex-seminarista que o marcou: mesmo que alguém deixe o seminário mais tarde, o período vivido lá pode ter sido exatamente a vontade de Deus naquele momento — para aprendizado, disciplina ou crescimento espiritual.
“Ser padre é ser Cristo no meio do povo”


A paixão pelo sacerdócio, segundo ele, não vem da ideia de apenas rezar a missa. “Ser padre é muito mais do que as pessoas pensam. É ser Cristo no meio do povo. É pela mão do sacerdote que Cristo nos absolve, que a unção dos enfermos é realizada, que os sacramentos acontecem. A missa é o principal Sacramento, pois traz o Cristo até nós, mas não o único”.
“O padre é o mediador entre os homens e Deus. Que vocação maravilhosa é essa, que liga a Terra ao Céu”, diz. “A messe é grande, mas poucos são os operários. Cristo chama operários todos os dias. Cabe a nós dar o nosso sim”. E por falar sobre o papel dos sacerdotes, Thiago não esquece de agradecer os Vigários: padre Fernando e Valdemar e o Pároco padre Giliard Cesconeto Gava, pelo apoio incondicional e carinho nesta jornada.
Thiago termina com simplicidade: “Estou muito feliz. É uma alegria imensa dar o meu sim para seguir essa vocação”.





