Por Leka Costa e Maria Eduarda Meneguel – Arquitetas e sócias no escritório Atna Arquitetura
Setembro Amarelo é o mês de prevenção ao suicídio, mas vamos falar sem rodeios: os espaços onde vivemos e trabalhamos podem ser cúmplices invisíveis do nosso sofrimento. A arquitetura, longe de ser só “bonita”, pode ser tão perigosa quanto um cigarro esquecido no cinzeiro. (Assista o vídeo no final do texto)
Casas que sufocam, escritórios que adoecem


Paredes cinzas, iluminação artificial agressiva, falta de ventilação e a ausência de contato com a natureza criam ambientes que drenam energia vital. Não é exagero: pesquisas mostram que a luz natural regula nosso humor e que ambientes abafados aumentam o estresse.
“Quando a arquitetura ignora a saúde, ela se torna uma máquina de moer gente em silêncio. A depressão encontra morada em espaços mal planejados”, afirma Leka Costa

Nos escritórios comerciais, o impacto é ainda mais cruel. Ambientes sem ergonomia, com ruído constante e zero conexão com o verde, criam funcionários zumbis, produtivos no papel, mas mentalmente em frangalhos.
O poder curativo do espaço

Ao contrário, uma arquitetura pensada para o bem-estar pode ser um escudo contra a exaustão mental. Ambientes com iluminação natural abundante, áreas verdes integradas, cores equilibradas e espaços de convivência estimulam serotonina, oxigenam ideias e literalmente salvam vidas.
“Não existe arquitetura neutra. Ou ela adoece, ou ela cuida. A responsabilidade é gigante, e precisamos encarar isso de frente”, comenta Maria Eduarda, Atna Arquitetura

Em casa: o perigo do refúgio tóxico

O lar deveria ser nosso porto seguro. Mas quantos vivem em casas onde não entra sol, onde não há um canto para respirar, onde o excesso de paredes e móveis sufoca mais do que protege?
“Projetar casas que abraçam é um ato de prevenção. Um quarto iluminado, uma sala arejada ou uma varanda viva podem ser a linha tênue entre desespero e alívio”, explica Leka Costa.

Nos negócios: lucro com empatia

Arquitetura comercial não é só sobre faturar. Restaurantes, clínicas e escritórios que cuidam do ambiente colhem clientes e colaboradores mais satisfeitos, fiéis e saudáveis. É mais que tendência, é sobrevivência.
“Empresas que tratam o espaço apenas como custo estão fadadas a perder talento e credibilidade. Arquitetura de saúde mental é investimento estratégico”, enfatiza Maria Eduarda, Atna Arquitetura.

Conclusão

Se o Setembro Amarelo nos convida a falar de saúde mental, a arquitetura não pode ficar fora dessa conversa. Cada parede pintada, cada janela aberta ou fechada, cada espaço sufocado ou arejado pode ser decisivo. Não é exagero: arquitetura pode salvar.