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De Matera/IT a Urussanga: quando a arquitetura vira motor de identidade e negócios

Como a preservação arquitetônica pode transformar centros históricos em motores de turismo, negócios e identidade cultural

Fotos: Reprodução/Divulgação
Fotos: Reprodução/Divulgação

Por Leka Costa e Maria Eduarda Meneguel – Arquitetas e sócias no escritório Atna Arquitetura

Quando estive em Matera, no sul da Itália, pude sentir na pele como a arquitetura pode transformar o destino de uma cidade. Por décadas, Matera foi chamada de “a vergonha da Itália”: cavernas habitadas sem condições dignas, um símbolo de atraso. Mas ao caminhar por suas ruas hoje, percebi como aquele estigma se reverteu. Os antigos Sassi foram apropriados pelo turismo e ganharam novos usos: hotéis boutique, restaurantes, livrarias, ateliês. Cada pedra preservada virou parte de uma narrativa que atrai visitantes do mundo inteiro. O que era ruína virou motor econômico. O que era vergonha virou orgulho.

As antigas cavernas de Matera, antes vistas como “vergonha nacional”, hoje abrigam hotéis, restaurantes e livrarias que atraem turistas do mundo todo Foto: Vista panorâmica dos Sassi di Matera

Esse exemplo ecoa com força quando penso nas cidades coloniais do Litoral Sul de Santa Catarina, como Urussanga, Laguna, Imbituba, Criciúma. Aqui também temos centros históricos com potencial imenso, mas que muitas vezes ainda são vistos como peso, e não como ativo.

No Litoral Sul catarinense, construções coloniais como o Portal de Urussanga e casarões antigos carregam uma identidade arquitetônica única, ainda pouco explorada economicamente Fotos: Divulgação

“Um restaurante que ocupa um casarão histórico não vende só comida, ele entrega experiência, memória e pertencimento”, comento sempre com a minha parceira de colunas, a arquiteta Maria Eduarda. E ela reforça: “Os centros históricos podem ser motores econômicos quando deixam de ser vistos apenas como museus e passam a ser ativados como cenários vivos da vida contemporânea.”

Se Matera encontrou no turismo e na arquitetura a chave da sua reinvenção, por que não poderíamos fazer o mesmo por aqui? Imagine uma cafeteria dentro de um sobrado colonial preservado, uma livraria que mantenha o piso original de madeira, uma pousada que faça da sua fachada histórica o cartão de visitas. Esses negócios não venderiam apenas serviços, venderiam uma experiência enraizada na memória coletiva da região.

Quando negócios ocupam edifícios históricos, vendem mais que produtos: entregam experiência, memória e pertencimentoFotos: Sextantio Hotel/ Matera

A visão da Atna Arquitetura é de que o diálogo entre preservação e inovação pode dar nova vida a espaços históricos sem apagar sua essência. Essa é uma chave fundamental para que a arquitetura contemporânea se torne aliada da memória e não sua substituta.

O diálogo entre passado e presente: como preservar a essência arquitetônica sem abrir mão da contemporaneidade – Foto: Restaurante Regiacorte

Minha experiência em Matera deixou claro: quando a arquitetura histórica deixa de ser tratada como passado e passa a ser entendida como ativo, toda a cidade ganha.

No Litoral Sul catarinense, temos esse mesmo potencial diante de nós. A questão é: vamos aproveitá-lo ou deixar que nossas histórias se percam em fachadas silenciosas?

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